Carta do Bispo Diocesano para Bragança Paulista

Irmãos e irmãs,

Para viver o Mistério de Jesus, o Cristo por sua paixão, morte e ressurreição preparou-nos a Quaresma, fazendo-nos mergulhar no projeto amoroso do Pai. Projeto de vida e libertação levado por ele às últimas consequências – a Cruz –, que nos salvou do pecado e de todo mal que ameaça a nossa vida, a vida dos irmãos e a vida do nosso planeta.

O momento presente, marcado pela pandemia do coronavírus, motivou-nos a viver a Quaresma passando da prática habitual do jejum, oração, esmola e outros exercícios espirituais, como a Via Sacra, para uma atitude de consternação não apenas em relação a Jesus, em seu sofrimento, mas à humanidade inteira afligida por um mal, que põe em risco a vida de todos, sobretudo os idosos e portadores de alguma doença grave, ricos e pobres, sábios e ignorantes, forte e fracos.

Diante do desconhecido, passando por nós como um “anjo exterminador”, ameaçando a vida, fomos submetidos ao distanciamento social, para preservar e nossa vida e a de nossos irmãos. Distanciamento que, não significando isolamento do mundo e dos acontecimentos, levou-nos à comunhão e à compaixão, exigindo nesse tempo uma reflexão e, mais do que isso, a escuta do que esse flagelo assustador está a nos ensinar. De tantas respostas possíveis, algumas nos parecem lógicas: recuperar a centralidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus; apostar na economia da partilha dos bens, com uma economia sustentável, não submetida ao consumismo devastador e devorador de vidas e acreditar na comunhão dos humanos entre si, com a natureza e com o seu criador.

Só a busca de Deus como absoluto e Senhor de todas as coisas, o despojamento, a humildade e a serviçalidade reúnem as condições para um mundo  novo, aquele sonhado pelo Criador desde toda a eternidade. Não imaginávamos que o tema e o lema da Campanha da Fraternidade deste ano se tornassem um apelo vital: VER – SENTIR COMPAIXÃO – CUIDAR… afinal, muitos irmãos e irmãs, de longe e de perto tiveram suas vidas afetadas e ceifadas. É inegável que a compaixão, que está superando todas as barreiras, de raça e de religião, está movendo o mundo. Permanece o apelo do cuidado com a vida.

Terminamos a Quaresma e entramos na Semana Santa com os templos fechados. Uma angústia perceptível foi tomando conta dos nossos corações. Como celebrar o Tríduo Pascoal se a Igreja, constituída em assembleia é o eloquente sinal da presença do Senhor Crucificado-Ressuscitado? No hoje de nossa fé, sem podermos constituir nossas assembleias litúrgicas habituais, como não termos presente aquela assembleia descrita no livro do Apocalipse: “Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21, 3-4). Esta é a assembleia “silenciosamente” constituída por “homens e mulheres de toda tribo, língua, povo e nação” (cf. Ap 5, 9), assembleia orante, adorante e confiante.

Eis a nossa Páscoa, a nossa Eucaristia, a nossa comunhão com todos os sofredores, especialmente as vítimas desta chaga impressa em nossas vidas pelo coronavírus. As mãos generosas dos(as) agentes de saúde, médicos(as), enfermeiros(as) e de todos os que são capazes de assistir e consolar em tempos de angústia e sofrimento, prolongam as mãos do Crucificado–Ressuscitado. Eis a nossa Páscoa! Páscoa feliz porque o vencedor da morte está conosco: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Dom Sérgio Aparecido Colombo
Bispo Diocesano

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